Eu e Vans estávamos
numa fila enorme dum festival de música.
Enquanto isso, o sol
estava se pondo no horizonte manchando o céu de laranja. Olhei bem para o Vans
que estava bem na minha frente. Ri. Ri novamente. O Vans que tinha a minha
frente não parecia nadinha com o Vans caçador de vampiros. Ele estava muito
diferente.
O caçador de vampiros
usava uma camiseta regata branca com aquela boca enorme do Rolling Stones, deixando a mostra os seus músculos rígidos. Vans
tinha uma cabeleira negra enorme que tocava seus ombros.
Percebendo, que eu o
encarava, ele virou-se e sorriu pela primeira vez. E algo muito engraçado
acontecera: pela primeira vez, eu notara como os lábios, nariz e sobrancelhas
dele formavam um conjunto harmônico e perfeito, qual se encaixava em seu rosto
forte e quadrado.
-- Que foi?—perguntou
ele erguendo a sobrancelha da esquerda.
--Nada... —respondi
parecendo ter acabado de acordar de um coma. —Por que viemos a esse festival
mesmo?—questionei tentando mudar de direção a atenção de Vans.
Ele me encarou por
uns segundos como se estivesse tentando decifrar o motivo pelo qual o estava
encarando.
Encarei de volta
desafiadoramente.
--Temos um trabalho a
fazer aqui... —respondeu desviando olhar.
Porém, antes que
pudesse perguntar o que iríamos exterminar o portão que dava para área onde ocorreriam
os shows, se abrira.
***
--Ei, quer ficar
comigo?—perguntou um idiota de cabelo espetado segurando no meu braço.
No mesmo instante,
deferi um chute na canela dele. Quem aquele babaca pensava que era para se
aproximar de mim daquele jeito ou de qualquer outra garota?
Ao som de gargalhadas
estrondosas de seus amigos, vi o garoto-babaca contorcer-se de dor até ele
deitar-se no chão.
Ainda pude ouvi-lo,
me xingar de “vagabunda” e “vadia”,enquanto grunhia de dor. A sorte dele foi
que o chute que eu dera não fora para quebrar o osso da perna, pois se eu quisesse,
facilmente o teria feito.
Procurei por Vans, no
meio do tumulto de fofoqueiros que se formara ao redor, no entanto, não o consegui
encontrar.
Onde ele teria ido?
***
Fora encontrá-lo,
numa fila atrás dum dos vários palcos que ali tinha no festival.
--Que bom que você me
encontrou!—exclamou Vans com um sorriso sarcástico de lagarto no rosto.
O que estava
acontecendo com ele?
Normalmente, ele não
agia daquela forma.
--Onde você estava?
--Aqui. —respondeu
ele.
--Eu sei. Dãr!
--Então por que você
perguntou se já sabia a resposta?—disse ele rispidamente.
Me aproximei dele e
comecei a encará-lo.
--O que está
acontecendo?
--Acontecendo o que?
--Você sabe muito bem
do que estou falando Vans. Não se faça de idiota.
Vans apenas rira. Um
riso que me pareceu forçado e insignificante.
Foi então que comecei
a gritar:
--TÁ, QUAL É A SUA?O
QUE ESTAMOS FAZENDO AQUI ? SEI QUE VIA A FESTIVAIS À ESMO COMO ESSE DAQUI NÃO
COMBINA NADINHA COM VOCÊ! EM QUEM VAMOS ENFIAR A ESTACA HOJE?
Imediatamente, Vans
me puxara pelo braço e me levando a um canto afastado da fila. Olhei para trás
para ver se alguém tinha ouvido, mas as pessoas estavam tão centradas em
conversarem umas com as outras sobre os shows, que nem me notaram.
-- Por que a
gritaria?Você quer que nos descubram?—sussurrou.
Ele estava sério.
Ah, então era isso.
Estava certa! Existia um plano por trás da nossa vinda aquele festival.
-- Quer saber? Pra
mim tanto faz! Pelo menos se nos pegarem, ficarei sabendo do que nós viemos
atrás— retruquei provocativa.
--O.k. Irei contar, mas
peço para você ir ao banheiro se recompor. Não podemos correr o risco de
suspeitarem da gente.
Olhei bem nos olhos
dele para ver se o que ele acabara de falar era verdade.
Sim, era. Seus olhos
castanhos, francos não mentiam.
***
--Amiga o que é isso
no seu pescoço?—perguntou uma mulher ruiva de cabelos curtos.
--O que?—respondera a
outra.
--Esses dois furos no
seu pescoço, ó: - disse a ruiva puxando a amiga para frente do espelho. Esta
retirou o lenço roxo que encobria o seu pescoço.
--Nossa, miga não sei
o que é não... Será que foi algum bicho que me mordeu quando estava dormindo e
nem me dei conta?— questionou a que estava com lenço.
--Duvido viu. Os
furos são muito grandes para ter sido um mosquito.
--Não ligo. O
importante é que consegui o número daquele vocalista daquela banda... Como é o
nome mesmo?
--Necrópole?—lembrara
a amiga de cabelos afogueados.
--Isso!
--Então miga me conta
como ele é... Ele beija bem?—perguntou a outra laçando seu braço no da miga,
dirigindo-se para fora do banheiro.
Sorri.
Então era isso.
***
--Quem a próxima Julian?—perguntou um
cara de calça rasgada sentado num sofá preto.
--Não sei David, mande entrar.
No camarim, entramos eu e Vans.
--Desculpe,
mas a moça primeiro — anunciou David logo indicado a porta pra Vans.
Trocamos
um breve olhar. E depois ele se foi.
--Como
é seu nome?—perguntou Julian me observando de cima a baixo.
--Simone—
respondi sorrindo, sentando-me ao seu lado.
***
Os
olhos. Só fitava os olhos. Nada importava. Apenas aquele olhar.
--Então
Simone, de qual música você mais gosta da banda?
--Eu
gosto daquela “A volta do senhor das trevas”—respondi automaticamente.
--
Eu também.
--Posso
pedir uma coisa?—pedi. Na verdade, implorava. Necessitava daquilo. Era algo
muito mais forte do que eu podia controlar. Era como uma represa prestes a se
romper.
--Pode.
--Me
beija?
Ele
sorriu e foi se aproximando até que seus lábios tocaram os meus.
Foi
como beijar um cadáver.
Ou bloco de gelo.
--Que foi?Não gostou?
--Gostei.
--Então, por que você
está com essa cara?
--É que... —disse
agachando a cabeça acanhada.
--É o que? Vamos,
responda—disse ele autoritário erguendo o meu queixo e me fitando. Estava me
perscrutando, vasculhando.
--É que não estou
sentindo o seu coração bater...
E antes que ele
pudesse falar alguma coisa saquei a estaca escondida na manga da minha blusa e
a finquei em seu peito.
Segundos depois Vans
entra no camarim ofegante:
--Dei conta dos
outros dois. Porém temos de sair daqui o quanto antes. Ligaram pra policia,
alguém me viu acabando com os outros integrantes da banda.
--Ok.Vamos,logo
então.
Saímos do camarim e
nos deparamos com o dia raiando. E sem que Vans percebesse, dou uma olhada no
pingente que ficara em cima das cinzas de Julian.
O que seria aquilo?
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