sexta-feira, 10 de maio de 2013

Vampiro 3: O Palhaço

13 vampiros

O ano era199...

O dia ia se derretendo por detrás daquela grande lona de circo que parecia uma espécie de ovini estacionado no terreno baldio.
Virei-me para Vans e perguntei:
--Você tem certeza que é aqui?
--Por quê?—disse estacionando o carro a poucos metros de distância da entrada do circo.
--Ah, sei lá... Ele parece tão normal...
--Mas as aparências enganam. — afirmou procurando alguma coisa no bolso interno de seu paletó roxo escuro — Veja essa foto e me diga se ele parece ser tão inocente... —disse me estendendo uma fotografia.
Nela um palhaço de cabelos vermelhos, maquilagem forte no rosto e com um sorriso maquiavélico que faria com que qualquer criancinha se afugentasse ,posava com ares de palhaço assassino.
  --É... Devo estar enganada mesmo...
  --Então como vai funcionar?
Ele sorriu para mim. Virou-se e buscou no banco de trás do carro uma sacola.
--Você terá de atuar!
--O que?
--Depois eu explico apenas veja o que tem aí dentro. —disse jogando a sacola em meu colo.

***

Não acreditava naquilo!
Eu Simone Ayer, vestida de criança!Vê se pode!
O plano era o seguinte: ele ficaria do lado de fora me esperando com o carro próximo, enquanto eu acabava com o Vampiro/Palhaço. Se algo desse errado bastava um grito e ele viria correndo em meu socorro.
Caminhava pelo terreno me sentindo uma daquelas cosdplayers da Sailormoons.
Fui para trás do circo em busca de trailers, aliás, em busca do trailer dele, do Palhaço. Havia muitos trailers espalhados, mas alguns chamavam mais atenção pelo nome que traziam na lataria do veículo como esses: Paçoca e Piolho, Madame Barbada,Homem Palito e Joça e o pequeno anão.
Andei por entre essas casas locomotivas, até que me deparo com o trailer dele. Enferrujado e com o desenho de seu rosto horripilante estampado.
Bato na porta de ferro que tinha uma janela em formato de circulo. Depois de dar três toques na porta, o rosto dele aparece na janela redonda.
Quando vi aquele rosto de palhaço todo maquiado de preto, levei um susto imenso. Se não fosse pela condição do plano eu teria dado um grito.
Abriu a porta e disse com sua voz fanha:
--O que você quer?
--O senhor poderia me dar um autografo?—perguntei com a voz mais fina e infantilizada que pude, estendendo a ele um caderno de espiral e uma caneta bica, qual pegara com um sorriso.
--Você não quer entrar?—perguntou ele, me olhando de cima abaixo.
Sorrio.
--Sim, quero...
O palhaço escancara a porta num sinal de convite. Subo. E assim que entro, ele fecha a porta.
--Você bebe alguma coisa?
--Não, não bebo... —respondi me assentando no banco a frente duma pequena mesa quadrada de madeira.
Olhei para janela lá fora.
A noite havia caído depressa...
--Então, por onde começamos?—perguntou-me o palhaço.
--Posso te fazer uma pergunta?
--Faça—respondeu se assentando a minha frente.
--Você nunca tira essa roupa de palhaço, não?
--Não, gosto de usá-la...
--Até a maquilagem?—perguntei sabendo que o motivo de ele usar aquela maquiagem é que era ao mesmo tempo tanto para sua proteção já que ela lhe devia proteger contra o sol, quanto para seu disfarce, pois ela encobria a pele branca esverdeada.
--Até a maquiagem... Mas para quê tantas perguntas mocinha?
--É porque uma amiga minha veio aqui e nunca mais apareceu...
--Sério?—falou com as sobrancelhas erguidas.—Pois não sei de garota alguma...Como era o nome dela?
--Estaca...
--Oi?—perguntou ele parecendo não ouvir.
--ESTACA!—digo avançado nele e acertando a estaca em seu peito.
Em seguida, como de praxe, desfez-se em pó.
Abri a porta do vampiro/palhaço e saí em direção da noite. Já fora dos confins do circo e dentro do carro, Vans me pergunta:
--E aí como foi?
--Ah, até que foi fácil... —disse pensativa. —Ele fez mesmo aquelas atrocidades?
--Sim. —disse ele dando partida no carro. —Ele pegava  adolescentes, as atraia para dentro do trailer e as matava tomando todo o seu sangue... Ele era um dos vampiros mais procurados pelos caçadores, mas como ele trabalhava no circo e de mês em mês, mudava de lugar, era quase impossível que o localizassem.
--E o que ele fazia com os corpos?
Vans suspirou e falou :
--Esquartejava, os punha dentro de bolsas e enterrava debaixo do trailer...
Pude sentir lágrimas mornas e cristalinas deslizarem por meu rosto enquanto atravessamos a noite úmida.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Vampiro 2: A Pequena

13vampiros.blogspot.com

Quando vi aquela foto que Vans me mostrou, fiquei boquiaberta, não conseguindo acreditar no que via.
Ah, Vans é aquele cara pirado que me avisou no meio da rua para eu não abrir a porta para estranho, se lembram?Então, depois daquele incidente com o meu primeiro vampiro, ele se tornara meu tutor, mas isso depois eu conto...
Como disse, eu havia ficado boquiaberta. A pessoa que estampava aquela fotografia era uma menininha linda, aparentando não ter mais do que dez anos. Era loira cabelos cacheados e pele branca como porcelana.
Eu me virei pra ele e perguntei:
--Tem certeza?
--Tenho. Você não deve se enganar com as aparências, minha cara... Nesse mundo em que vivemos tudo pode enganar.
Respirei, pois no fundo ainda não conseguia acreditar. Uma criança como aquela, uma vampira sendo também, a mais perigosa?
Não conseguia acreditar...

                                            ***
Vans tinha passado as coordenadas de onde eu encontraria a pequena vampira e a sua horda. Ficava numa fábrica desativada, ao lado dum cassino clandestino que segundo Vans, pertencia a ela, a vampira.
Trazia comigo o equipamento necessário para exterminar qualquer vampiro. Orbes de luz ultravioleta, meia dúzia de estacas e meu corpo. Sim, meu corpo. Se você não estiver em plena forma física você é morta num piscar de olhos.
 Tinha vários seguranças rondando o lugar. Tinha de encontrar uma forma de distraí-los.
Mas como?
Foi então que uma ideia lampejou em meu cérebro...

***
--Olá, você pode me ajudar?—disse levantando um pouco a saia rosa, deixando a mostra minha coxa branca e pálida.
--Posso... —respondeu um dos guardas com olhos que faltavam saltar da cara como num daqueles desenhos animados com coiotes.
--É que meu carro quebrou num beco escuro logo ali... —disse apontando na direção imaginada. —E você é forte, pensei que você pudesse me ajudar...
Nessa parte fiquei olhando para o ombro musculoso dele. Realmente ele era muito forte. Se algo desse errado, estaria frita.
--Mas é claro que posso ajudar—respondeu com malicia. O sorriso dele ia de orelha a orelha.
Eu peguei na mão dele e o levei no beco onde estava meu suposto carro. Era noite e como em outras partes de São Paulo, o poste de luz ali, estava quebrado.
--Então?Cadê o carro?—pergunta ele.
--Ih, acho que roubaram ele!!—digo com a voz meio infantilizada.
Ele sorriu. Fui à direção dele encostando-o na parede. Insinuei que ia dar um beijo nele, mas não fiz.
Queria deixá-lo excitado apenas...
Dou dois beijos na nuca dele e vou me agachando...
E sem que ele percebesse o que tivesse lhe matado, saco a estaca atrás de minhas costas e a enfio em seu peito com toda força que consegui.
Ri pra ele e antes que se desmanchasse em cinzas pude ouvi-lo dizer:
--Vaca!
Agora faltava mais um. Pego da minha sacola de equipamentos jogada a um canto nas sombras.

***
--Oi!O senhor deseja comprar algum cosmético da Joqueti?
 --Não.
--Aproveita que está na promoção!!
--Já disse que não quero!
--O. K. Então aceita esse brinde?
--O quê...?
Antes que ele conseguisse notar, a estaca furava seu peito fazendo-o, como o outro, desmanchar em cinzas.
O pior de tudo era o cheiro que eles deixavam, no ar. Um cheiro de ovo podre ou o famoso cheiro de enxofre.
Bem agora faltava a pequena vampira...
Tiro a foto da menina do bolso e entro no galpão...

***
--Olá, Simone, como vai?—disse uma voz infantil  cortando a escuridão.
A fábrica estava mergulhada nas trevas. Não conseguia ver nada. Era como se tivesse ficado cega.
--Não, se preocupe, não vou te matar... Por enquanto — falou a voz infantil explodindo, em seguida, em risos.
--Por que você não se mostra?—digo buscando uma estaca na bolsa.
--Eu não sou imbecil!
--Como você sabe meu nome?
--Nós vampiros, temos nossos meios também.
Pude ouvir o som de seus sapatinhos no piso da fábrica ecoar.        
Já que eu não consegui, vê-la. Eu tinha de me concentrar nos meus outros sentidos.
Fecho os olhos.
Tento localizá-la através de minha audição. Procurava calcular a distancia em que estava através do som de seus passos.
Tec-tec, fazia seu salto cada vez mais próximo.
--Que foi?Decidiu se entregar?
Tec-tec,Tec-tec-tec, Tec-tec-tec-tec
Agora ela estava correndo.
Mais um pouco, só mais um pouquinho...
Tec-tec-tec-tec-tec-tec-tec-tec...
--Qual sua última palavra?—disse ela gritando.
--Vai pro inferno!!!—berrei acertando resposta a estaca em seu coraçãozinho. Senti quando ela segurou minha mão enquanto eu afundava mais e mais a estaca nela.
--Como?—interrogou surpresa.
--No mundo em que vivemos, querida, tudo pode enganar...

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Vampiro 1:O Primeiro a gente nunca esquece


Lembro-me como se fosse hoje. Lembro-me tão nitidamente a primeira vez em que meti uma estaca no peito de um vampiro, que minhas mãos chegam a formigar...
Tudo começou quando eu ainda era uma adolescente. Estava no colegial. Estudava num grande colégio aqui de São Paulo, estava no segundo ou primeiro ano do ensino médio— se a memória não me falhar.
Era uma adolescente como qualquer outra, isto é: gostava de ir ao shopping com as amigas, ficar batendo papo pelo telefone até ficar áfona, paquerar garotos durante o intervalo e etc...
Em suma, era uma garota como qualquer outra.
Bem... Era...
Foi numa sexta-feira, último dia de aula daquela semana que tinha sido a mais exaustiva de todo o ano. Também, não era para menos, pois aquela semana fora a de semana de provas e como estávamos no terceiro bimestre, era muito arriscado tirar vermelho.
Naquele dia decidira não pegar ônibus, porque estava a fim de andar. Algo muito estranho, pois sou preguiçosa e raramente ando a pé — podem me chamar de Maria-Gasolina o quanto quiser que eu não ligo.
Passava por uma rua deserta, apesar do horário, umas seis e meia da tarde. O vento estava frio e cortante. Aliás, aquele fora o dia mais frio daquele ano.
Caminhava tranquilamente, alheia ao que acontecia em meu redor, quando ,de repente, salta a minha frente, um velho de terno preto e cabelos acinzentados dizendo:
--Simone, você corre perigo!
--Sério?Não diga... ---respondo zombeteira.
Ele sorriu e continuou:
--Sei que devo estar parecendo um doido varrido, mas você precisa me ouvir...
--Tá, mas outro dia. Hoje não vai dar pra mim não. —respondi passando reto pelo velho.
Foi quando ele pegou no meu braço com força:
--Escute: não abra a porta, para estranhos e muito menos os convida para entrar.
Dado o aviso, solta meu braço.
O que mais impressiona é que naquela hora a minha ironia havia sumido, escafedendo-se não sei pra onde...
***
De súbito, minha barriga fora possuída por roncos como se dentro dela vivessem espíritos loucos e famintos, reclamando por comida.
Não dera nem cinco minutos quando o som metálico da campainha soou: ding-dong.
Imediatamente minha barriga reage, roncando feito uma desesperada, reivindicando: Comida!Comida!Comida!
Abro a porta e dou de cara com o entregador, que por sinal era bem gatinho.
--Quanto devo?—pergunto.
--20. — respondeu o entregador que mais parecia um modelo.
Vou a copa americana da cozinha pegar o dinheiro. Volto e o entrego ao rapaz, de cabelos ruivos e rosto cheio de sardas. Ele era magro de olhos azuis. Por um breve momento, eu fiquei mergulhado naqueles olhos...
--Posso entrar?
--Para quê?—perguntando automaticamente, lembrando-se de repente, do que o velho havia dito.
--Estou com sede...
O que estava pensando?
Aquele velho louco só podia estar bêbado ou drogado. Arrependo-me da grosseria e o convido a entrar:
--Entre...
No mesmo momento em que ele pisou no hall de entrada um frio correu minha coluna. Era como se algo molhado e gelado estivesse subindo pelas minhas costas, me arrepiando por completo.
O levei até a cozinha, peguei um copo no armário e pus um pouco de água da garrafa que havia pegado da geladeira.
--Tá bom de água?—perguntei conforme a água foi caindo no copo. Ele acenou a cabeça, quando água chegou à metade do copo de vidro.
Ele tomou a água num único gole.
--Obrigado—agradeceu.
--De nada. Quer mais alguma coisa?—pergunto cordial e esquecendo que a pizza em cima do balcão estaria esfriando.
--Sim, quero...
Ele foi se aproximando de mim, com os lábios úmidos, prontos para um beijo... Mas segundos depois, dois caninos projetaram—se em sua boca.
--Quero seu sangue!—gritou voando em cima de mim.
Fui pressionada contra a pia. Tateei a pia seca, fria feita de aço em busca de alguma coisa para me defender.
Encontro algo...
E quando ele estava prestes a furar minha jugular, encerro no peito dele uma faca grande de cabo de madeira.
Ele soltou um grito aterrorizante que fez com eu abafasse os ouvidos com as mãos.
Em seguida, o vi se transformar em pó.
E aquela fora a primeira de muitas vezes que eu matara um vampiro...