quarta-feira, 8 de maio de 2013

Vampiro 1:O Primeiro a gente nunca esquece


Lembro-me como se fosse hoje. Lembro-me tão nitidamente a primeira vez em que meti uma estaca no peito de um vampiro, que minhas mãos chegam a formigar...
Tudo começou quando eu ainda era uma adolescente. Estava no colegial. Estudava num grande colégio aqui de São Paulo, estava no segundo ou primeiro ano do ensino médio— se a memória não me falhar.
Era uma adolescente como qualquer outra, isto é: gostava de ir ao shopping com as amigas, ficar batendo papo pelo telefone até ficar áfona, paquerar garotos durante o intervalo e etc...
Em suma, era uma garota como qualquer outra.
Bem... Era...
Foi numa sexta-feira, último dia de aula daquela semana que tinha sido a mais exaustiva de todo o ano. Também, não era para menos, pois aquela semana fora a de semana de provas e como estávamos no terceiro bimestre, era muito arriscado tirar vermelho.
Naquele dia decidira não pegar ônibus, porque estava a fim de andar. Algo muito estranho, pois sou preguiçosa e raramente ando a pé — podem me chamar de Maria-Gasolina o quanto quiser que eu não ligo.
Passava por uma rua deserta, apesar do horário, umas seis e meia da tarde. O vento estava frio e cortante. Aliás, aquele fora o dia mais frio daquele ano.
Caminhava tranquilamente, alheia ao que acontecia em meu redor, quando ,de repente, salta a minha frente, um velho de terno preto e cabelos acinzentados dizendo:
--Simone, você corre perigo!
--Sério?Não diga... ---respondo zombeteira.
Ele sorriu e continuou:
--Sei que devo estar parecendo um doido varrido, mas você precisa me ouvir...
--Tá, mas outro dia. Hoje não vai dar pra mim não. —respondi passando reto pelo velho.
Foi quando ele pegou no meu braço com força:
--Escute: não abra a porta, para estranhos e muito menos os convida para entrar.
Dado o aviso, solta meu braço.
O que mais impressiona é que naquela hora a minha ironia havia sumido, escafedendo-se não sei pra onde...
***
De súbito, minha barriga fora possuída por roncos como se dentro dela vivessem espíritos loucos e famintos, reclamando por comida.
Não dera nem cinco minutos quando o som metálico da campainha soou: ding-dong.
Imediatamente minha barriga reage, roncando feito uma desesperada, reivindicando: Comida!Comida!Comida!
Abro a porta e dou de cara com o entregador, que por sinal era bem gatinho.
--Quanto devo?—pergunto.
--20. — respondeu o entregador que mais parecia um modelo.
Vou a copa americana da cozinha pegar o dinheiro. Volto e o entrego ao rapaz, de cabelos ruivos e rosto cheio de sardas. Ele era magro de olhos azuis. Por um breve momento, eu fiquei mergulhado naqueles olhos...
--Posso entrar?
--Para quê?—perguntando automaticamente, lembrando-se de repente, do que o velho havia dito.
--Estou com sede...
O que estava pensando?
Aquele velho louco só podia estar bêbado ou drogado. Arrependo-me da grosseria e o convido a entrar:
--Entre...
No mesmo momento em que ele pisou no hall de entrada um frio correu minha coluna. Era como se algo molhado e gelado estivesse subindo pelas minhas costas, me arrepiando por completo.
O levei até a cozinha, peguei um copo no armário e pus um pouco de água da garrafa que havia pegado da geladeira.
--Tá bom de água?—perguntei conforme a água foi caindo no copo. Ele acenou a cabeça, quando água chegou à metade do copo de vidro.
Ele tomou a água num único gole.
--Obrigado—agradeceu.
--De nada. Quer mais alguma coisa?—pergunto cordial e esquecendo que a pizza em cima do balcão estaria esfriando.
--Sim, quero...
Ele foi se aproximando de mim, com os lábios úmidos, prontos para um beijo... Mas segundos depois, dois caninos projetaram—se em sua boca.
--Quero seu sangue!—gritou voando em cima de mim.
Fui pressionada contra a pia. Tateei a pia seca, fria feita de aço em busca de alguma coisa para me defender.
Encontro algo...
E quando ele estava prestes a furar minha jugular, encerro no peito dele uma faca grande de cabo de madeira.
Ele soltou um grito aterrorizante que fez com eu abafasse os ouvidos com as mãos.
Em seguida, o vi se transformar em pó.
E aquela fora a primeira de muitas vezes que eu matara um vampiro...

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